
A Importância de Entender e Separar o Mundo Real do Virtual
O excesso de conectividade pode trazer prejuízos à saúde física e mental e também à socialização, que é fundamental na vida dos jovens estudantes.
Hoje em dia é possível fazer quase tudo com a comodidade que as telas nos permitem. Estudar, pesquisar, trabalhar, se divertir, interagir com amigos, conhecer novas pessoas, fazer compras... a lista é enorme! E tudo isso foi acentuado com a pandemia, quando o isolamento social se fez necessário e nos tornamos dependentes dos recursos tecnológicos para muitas atividades, entre elas assistir às aulas.
Vida real e virtual se integraram e se misturaram. O uso das telas, seja do celular, do tablet, do computador ou da televisão, foi ficando cada vez mais intenso e muitas pessoas simplesmente não conseguem se desconectar. O Brasil é um dos países que fica mais tempo online. Uma pesquisa da empresa NordVPN sobre hábitos digitais, realizada em janeiro de 2022, mostrou que o brasileiro passa 91 horas por semana conectado. Por ano, daria o total de 197 dias. Ou seja, ficamos muito tempo presos às telas.
Como tudo que é excessivo na vida faz mal, o contato com o mundo virtual em demasia também pode ser prejudicial. É pela necessidade de se refletir sobre isso que o tema do concurso EPTV na Escola de 2022 é "Por que acreditamos que o mundo virtual é real?". Este ano os alunos do 9º ano terão que discorrer sobre essa mistura entre os mundos virtual e real.
O assunto é sério e precisa, sim, ser tratado no ambiente escolar. Como explica a neuropiscopedagoga Cíntia Marchiori, professora da Unitá Faculdade e membro do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores (IBFE), o cérebro consegue identificar o que é real e o que é virtual, mas o “imput” (a entrada) das informações vem pela mesma forma, ou seja, pelas vias auditiva e visual. “A informação entra com um linear muito pequeno de diferenciação do que é real e do que é virtual, tanto que até pouco tempo, todas as linhas de pesquisa falavam que para o cérebro acontecia da mesma forma o processamento da informação do mundo virtual e do real. Agora que algumas pesquisas estão apontando que o cérebro faz uma pequena diferenciação”, revela.
Ela ressalta que, para o adolescente, que tem o cérebro ainda em processo de maturação, principalmente a área frontal - responsável pelo juízo de valores, pela ética, pelo certo e o errado -, tudo isso tem mais força. “Tudo o que ele vive no mundo virtual, ele vive com a mesma intensidade no mundo real”, afirma.
Segundo a especialista, um agravante é que a luz azul das telas mexe com o ciclo circadiano. “O jovem não dorme bem, aprende menos, pois precisa do sono para consolidar a aprendizagem, fica mais irritado e tem prejuízo de memória”, cita. Ou seja, o uso excessivo das tecnologias faz com que a gente se afaste cada vez mais do mundo real porque no virtual é mais fácil conviver, há a sensação de prazer com a possibilidade de construir impérios (nos jogos), ganha-se status e o cérebro entende tudo isso como recompensa. Assim, quanto mais tempo conectados, mais queremos ficar. “Facilmente o jovem vai ficando nesse mundo virtual como se fosse o mundo real dele”, alerta.
A neuropsicopedagoga Cíntia Marchiori, do IBFE, reforça que é importante chamar os jovens para refletir sobre os prejuízos do excesso de contato com o mundo virtual.
É como combater um vício
Se para os jovens pode ser difícil perceber os danos da alta conectividade, os pais e a comunidade escolar devem estar atentos. “Ao perceber que eles evitam aceitar convites para sair, preferindo o mundo virtual aos contatos sociais, e ficam arredios ou agressivos quando estão afastados das telas, é necessário buscar ajuda, principalmente por meio de terapia”, esclarece Cíntia. “No cérebro, essa realidade virtual entra como um vício em drogas ou açúcar. E a criança ou jovem devem ser retirados disso, sendo ajudados a sair desse vício”, completa.
Lembrando que tudo que é usado com parcimônia não causa problemas. “A escola tem esse papel de abraçar a tecnologia com a conscientização aliada e propor aos alunos que usem as informações que vêm do mundo virtual de forma prática no mundo real, por exemplo em trabalhos em grupos e projetos comunitários para que os estudantes possam se sentir realizados também no mundo real”, sugere a neuropsicopedagoga.
Célio Tasinafo, do Colégio Oficina do Estudante, de Campinas, defende que o debate e a reflexão ajudam os alunos a chegarem a conclusões do que é benefício e o que é nocivo no mundo virtual —
O importante envolvimento dos alunos
Para Célio Tasinafo, professor de História e diretor pedagógico do Colégio Oficina do Estudante unidade Taquaral, de Campinas, o tema escolhido pela EPTV para a redação deste ano é muito importante de ser discutido no ambiente escolar. “É uma geração que já nasceu conectada. O mundo não é o virtual, mas o virtual faz parte do mundo. Convidar os alunos a refletirem sobre o contato por meio da internet e das redes sociais é essencial para eles verem o que há de positivo e de negativo nisso. É um debate fundamental para que eles se conscientizem de que o mundo virtual é importante, mas não é tudo”, pontua.
Em sala de aula, ele sugere identificar o que essa realidade virtual significa para os jovens e problematizar no sentido de levantar questões como o fato de muitos pensarem que são invisíveis na internet e ali falar o que não falariam cara a cara, por exemplo, externar preconceitos raciais ou de gênero ou até xingar.
“Ainda que as redes sociais sejam mediadas por algoritmos e todos queiram curtidas, do outro lado tem pessoas. É preciso ser sensível a isso”, diz.
Ele considera que ao dar voz aos jovens e identificar como, porque e por quanto tempo ficam no mundo virtual, é o primeiro passo para propor discussões que permitam que eles mesmos cheguem a conclusões sobre o que é benéfico e o que deve ser abandonado. “Da mesma forma que alguns se escondem e deixam o bullying correr solto, tem o outro lado que desperta a solidariedade. É tudo 8 ou 80. Refletir pode ajudar no processo de amadurecimento. O que não pode é pregar a mensagem ‘abandone as telas’ porque isso não tem sentido para essa geração”, conclui.
Fonte: Glo.com.br

